terça-feira, 27 de março de 2012

Suspiro.. 2º capítulo- Parte 2


E aqui têm a 2º parte, do 2º capítulo, deste romance, o suspiro. Pois se estão ansiosos não esperem mais para descobrir o que vem aí... 


 - Experimenta a espetada de tamboril, é uma delícia.
 - Ok, vou confiar em ti. Se não gostar, já sei quem devo culpar.
 Até agora, fora a piada mais simpática que tinha dito.
 Sorrimos os dois.
     Mandei um SMS à Mafalda a contar-lhe a minha recente «descoberta». Era também uma maneira de prestar atenção a outra coisa.
     Mafalda, nem vais acreditar no que aconteceu. Vim jantar com os meus pais e um casal amigo deles. E por acaso tinham um filho.
     Passado um minuto ela já me tinha respondido.
     Hum, sim e?
     O filho do casal é aquele rapaz que conheci hoje na praia, o Diogo., respondi-lhe.
     Eh gata, juraaa! Haha mete-te com ele! Tenta conhecê-lo melhor! J
     De repente ouvi uma vez ao meu lado:
      - «Tenta conhecê-lo melhor». É bom saber que aparentemente te interessas por mim… - Diogo esboçava um sorriso de conquistador.
     Senti de novo o calor a subir-me pela coluna. Senti as minhas bochechas a arder, e era sinal de que estava super corada.
     Bolas, não queria acreditar que ele tinha visto o SMS! Mas que grande cusco e convencido!
     Guardei atrapalhadamente o telemóvel. Aclarei a voz e respondi-lhe.
      - Não és o único Diogo no mundo… - supostamente devia ter-me mostrado confiante, mas a minha resposta desajeitada mostrava tudo menos isso.
     Boa Alice, agora ainda o ajudas-te mais a levantar a «crista», pensei.
     - A sério? Então responde-me a isto: Para além de mim, quantos mais ‘Diogos’ é que conheceste hoje na praia?
     - Mais um – menti. Bolas, mais uma vez a minha voz tremeu.
     - Alice… - respondeu com uma cara de quem estava a pensar «devo ter parvo escrito na testa».
     Por acaso até tens, apeteceu-me responder-lhe. Mas não o fiz.
     - Não me estava a referir a ti. 
 - Pois, pois. – Disse com um sorriso triunfante.
 - És um bocado convencido, não? – Respondi-lhe um pouco incomodada.
  - Não muito… - fez uma pausa e assou a língua pelos dentes. - Mas sempre «me queres conhecer melhor», gata? – Agora estava a gozar comigo. Cretino.
     - Estou só a meter-me contigo…
 Sorri-lhe ironicamente.
      - Perguntaste-me se costumo vir aqui muitas vezes, mas como é óbvio, tu não. És de onde? – Perguntei na tentativa de mudar o rumo da conversa.
     Mostrou-me um breve sorriso. Encostou-se à cadeira, e respondeu-me:
     - Estou cá há três meses, Vivi em Cuba durante alguns anos.
     - Cuba? Sempre quis ir lá! – E era verdade, não sabia porquê mas sempre tivera um estranho fascínio por Cuba. A maneira como o povo cubano é, de certa maneira, livre e a forma como vive o dia-a-dia eram e sempre foram muito apelativos na minha opinião. Mas não era só o povo, mas também as paisagens, as praias e a música. Ah, a música, escaldante mas apaixonante.
     Sorriu-me.
     - Talvez um dia te leve lá. Talvez… - Pronunciou a última palavra sem qualquer som.
    Revirei os olhos de novo. Sinceramente. Estou aqui a tentar ser simpática e ele só sabe ser convencido e atiradiço? Segunda tentativa.
- Mas porque é que foram inicialmente?
Bebi um pouco de água, para refrescar a garganta.
    - Os meus pais queriam começar uma vida nova, e além disso eles sempre adoraram Cuba.
- Então e porque é que decidiram voltar?
O seu rosto ficou mais sério, mas não de mais. Depois de uma breve pausa respondeu-me:
     - A minha mãe já estava com saudades…
     Saudades? Não sei porquê, mas a resposta não me convenceu. Algo não estava certo. Estava intrigada nos meus pensamentos, quando ele me perguntou algo.
     - E tu, és daqui?
     - Mais propriamente de Cascais. – Respondi.
     Bem, agora já não me importava tanto com o facto de me referir a Cascais.
     - Ah, Cascais. Estou a viver lá agora… - olhou para mim e levantou uma sobrancelha.
     Sabendo o que é que aquele gesto queria dizer, sorri ao de leve.
    Então era isso que aquele sorriso quisera dizer há uns minutos atrás. Pois
     Entretanto chegaram os pratos. Diogo provou o seu, e com um ar de agradavelmente surpreendido, olhou para mim e disse:
     - Aprovado.
      - Ainda bem que gostaste. A primeira vez que provei, foi como se uma mistura agradável de sabores dança-se na minha boca. Cada ingrediente, cada…. – Não terminei a frase, já estava a devanear para variar. Sorri um pouco corada. – Desculpa, devo estar a aborrecer-te. Às vezes começo a divagar.
     Por vezes quando dou por mim, já estou no mundo da lua. Gosto por vezes de estar um pouco isolada do mundo real. É uma espécie de momento de descanso e recuperação.
     - Não faz mal. É sempre fascinante ver uma pessoa entusiasmar-se com aquilo que pensa, com o que realmente sente no fundo. É como se me deixasses ler os teus pensamentos através das tuas palavras, do teu rosto.
     Senti as bochechas corar e o calor ameaçou subir outra vez. Os seus olhos estavam fixos nos meus, ligados. Ficámos assim, a sorrir ao mesmo tempo, de maneira natural.
     - Queres um pouco? Este prato também é delicioso.
     - Aceito. – Respondeu docemente.
     Servi-lhe um bocado.
     Com um simples gesto deliciou-se.
     - Ficas-te com um pouco de molho no canto da boca. – Reparei rindo-me suavemente.
     Peguei no guardanapo, e com um gesto gentil, passei pelo canto da sua boca.
     - Aqui. – Pousei o guardanapo no canto da sua boca.
     Por breves momentos ficámos de novo a olhar-nos. Mas depressa voltei à realidade. Posei o guardanapo e aclarei a garganta.
     Continuei a comer.
     Falei também com o Sr. e a Sra. Abreu.
     Pelo que pareceu, ambos tinham classe, mas também sabiam pôr uma pessoa à vontade e por vezes eram simplesmente descontraídos.
     Sra Abreu tinha cabelo castanho-escuro e uns olhos da mesma cor. A sua pele parecia de porcelana, muito delicada. Era senhora de uma beleza exótica e invejável.
     Era parecida com a minha mãe. Ambas tinham a linha do maxilar muito parecido e os lábios da mesma forma.
Já Sr. Abreu tinha uns olhos que mostravam a mistura entre o verde e o azul. Ao contrário da mulher, a sua pele era ligeiramente mais bronzeada, contrastada com os cabelos castanhos-claros. Era igualmente bonito e censurável.
     Já tínhamos comido a sobremesa e os adultos estavam agora a tomar o seu café.
     Senti o meu bolso vibrar. Olhei para o ecrã e era a Joyce. Atendi o telemóvel, e de repente oiço-a muito eufórica.
     Já sei de tudo! A Mafalda contou-me ao acaso! Vai-te ao bife Alice!
     Admirada e surpreendida, respondi-lhe:
Ham… Eu agora não posso falar. Depois falamos ok?
Aproveita pah!, Respondeu antes de desligar.
Já estava com um pouco de calor, portanto decidi ir apanhar um pouco de ar. Pedi autorização aos meus pais, levantei-me da mesa e dirigi-me para a esplanada.
Estava uma noite agradável de Verão. Uma pequena brisa brincava com as pontas dos meus cabelos e a bainha do meu vestido também esvoaçava calmamente.
Senti alguém a falar ao meu ouvido, era um tom calmo, mas brincalhão.

CONTINUAÇÃO...
Mariana Campos

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