segunda-feira, 25 de junho de 2012

Country love



Finalmente chegou o fim de ano escolar. Hoje à noite vou sair com os meus amigos, mas o que me deixa mais animada é que a partir de amanhã posso ir para o campo com meu pai. Minha mãe diz que saio a ele na paixão pelos cavalos, daí querer seguir o seu trabalho a seu lado, cuidar do que é nosso.
Nós somos criadores de cavalos de Puro-sangue Lusitano, porque são uns cavalos incríveis, muito versáteis, muito dóceis, ágeis e muito corajosos. Como a nossa herdade é enorme empregamos muita gente e temos alguns caseiros, mas não pode ser qualquer um, têm que ter amor pelos animais.
- Dália, amiga, mas quem é o bonzão que está lá fora? – Perguntou a minha amiga Lisa ao entrar no quarto abanando-se toda, quando me estava a terminar de vestir para sairmos.
- Hum? Mas qual bonzão!?
- O tipo louraço, olhos azuis e musculado! Amiga mas não tens olhos para ver!? – Perguntou ela surpresa por não saber de quem falava, realmente ainda não tinha visto ninguém com essa descrição.
- Lisa amiga, não há ninguém com essa descrição por estas bandas. – Respondi-lhe eu, mas lembrei-me que meu pai tinha contratado mais um casal alemão para caseiros e que tinham um filho pouco mais velho do que eu. – Espera, agora me lembro, deve ser o filho dos novos caseiros, parece que são alemães.
- Amiga, nesse caso tens que mo apresentar.
- Ficaste doida!? Nem sequer o conheço, aliás, nem sequer ainda o vi.
- Mas quando o conheceres. – Disse ela sorrindo.
- Lisa é melhor irmos, a tua mãe está à nossa espera. – Disse eu terminando de me pentear e apanhado a minha mala. – Esse vestido fica-te mesmo bem. – Elogiei o seu vestido curto de cor preto.
- Obrigado, também tas muito bem.
- Obrigado. – Vestia uns curtos calções simples pretos com um top justo vermelho. – Tchau mãe, pai até mais logo.
- Não poderei ir-te buscar, mandarei o Mark. – Disse meu pai de roda de alguns papéis. – Tenham juízo meninas.
- Ok, nós somos ajuizadas pai. – Respondi-lhe eu dando-lhes um beijo a cada um.
Lá fomos nós ter com os nossos amigos, primeiro jantámos, depois sim, fomos para a discoteca divertirmo-nos. Realmente foi uma noite bem divertida, até eu que não costumo beber, acabei bebendo um pouco mas, acho que fiquei bêbeda ao terceiro copo por não estar habituada ao álcool. Pelas duas horas apareceu um tipo corpulento a dizer que tinha ordens de meu pai para me levar para casa. – Bom, deves ser o Mark, certo? – Estava a ver tudo a rodar. Ele apercebeu-se de que eu não estava bem, agarrou-me ao colo e levou-me para o jipe. Hum! Acho que assim que fui colocada no banco adormeci e só acordei no dia seguinte já na minha cama. – Hããã, estou na minha cama!? – Realmente não me lembrava de nada, espero não ter feito nenhuma asneira, era só no que pensava.
Levantei-me, tomei um duche frio antes de sair do quarto e fui ter à cozinha. Tirei um sumo de laranja para beber um pouco, quando uma senhora que não conhecia entrou na cozinha e assustei-me.
- Desculpe menina, não a queria assustar. – Disse a senhora simpática.
- Não faz mal, acho que ainda estou meio a dormir, só isso. E você quem é? – Perguntei bocejando.
- Sou a Mary, a nova empregada. Como se sente hoje? O meu filho ontem já a trouxe a dormir para casa.
- Apesar da dor de cabeça, bem obrigado. – Massajei a fonte do lado direito, estava ainda latejando.
Terminei de beber o sumo de laranja e de comer uma metade de umas sandes de fiambre, despedi-me de Mary e saí da cozinha. Já era tarde e doía-me a cabeça mas, mesmo assim fui para os estábulos preparar o meu cavalo para ir ter com meu pai.

***
Estava eu a terminar de colocar a cela no meu cavalo quando surgiu um rapaz louro de olhos azuis, ainda não o tinha visto por aqui a trabalhar, mas lembrei-me vagamente da noite anterior, era o mesmo rapaz que me tinha ido buscar à discoteca.
- Bom dia. – Falei eu. – Desculpa, por acaso és o Mark?
- Sim. – Respondeu ele parecia ser de poucas palavras.
- Obrigado por ontem…
- Era a minha obrigação. – Respondeu arrogantemente. Acrescentando ainda. – Menina dos papás. – Montou numa égua branca e foi-se embora.
- Mal-educado. – Gritei-lhe eu. - Mas que mal lhe fiz para ser arrogante? - Após ter terminado de preparar o meu cavalo, montei e fui ter com meu pai e os homens, sabia exactamente onde os encontrar.
Para meu azar mesmo quando estava a chegar, o meu cavalo assustou-se com uma maldita cobra, empinando-se nas patas traseiras. Não me consegui suster e caí de costas no chão. Mark era quem estava mais perto e correu para mim para me ajudar. Eu já me estava a levantar, quando ele me pegou no braço e me levantou num ápice. – Obrigado, uma vez mais.
- Toma mais cuidado para a próxima.
- Eu tomo cuidado, só que fui apanhada de surpresa.
- Estás bem Dália? – Perguntou meu pai descendo do seu cavalo preocupado comigo.
- Sim, estou bem pai. – Respondi eu dando-lhe um beijo.
- Devias voltar para casa. – Disse-me ele ainda preocupado.
- Não é preciso, estou bem. Vamos ao trabalho? – Perguntei eu toda animada voltando a montar no meu cavalo.
- Trabalhar!? Isto não é nenhum recreio para miúdas mimadas. – Disse Mark voltando também a montar no seu cavalo.
Do que ele não esperava era que eu trabalhava lado a lado com os homens. Durante todo o dia, fiz tudo como ele, mesmo depois de almoço regressei para terminar o dia. Já eram horas de jantar e ainda estava nas cavalariças cuidando do meu cavalo e enquanto não o lavei, escovei e verifiquei os cascos, não fui para casa. Mary teve que me vir chamar para ir jantar. Mark estava de longe a observar-me, o que estaria a pensar?
Depois do jantar regressei para junto de meu cavalo e voltei a montá-lo, adorava montar ao luar e muitas vezes nesse passeio nocturno, não colocava cela. Estava eu cavalgando quando Trevo voltou a assustar-se com algo que surgiu por trás, mas que raio o que se passa hoje com ele para andar assustadiço? 
Escorreguei e voltei a cair de lado e desta vez em cima de alguém. Quando olho, era Mark que estava debaixo de mim, este por sua vez, deu meia volta ficando por cima de mim e assim ficou uns breves instantes mas acabei por faze-lo sair de cima e levantei-me de rompante.
- Desculpa cair-te em cima. – Disse eu me afastando dele e me aproximando de Trevo.
- Não tens de que. – Disse ele também e levantando-se virando-me as costas.

***

Todos os dias ia trabalhar com meu pai e todos os dias Mark era arrogante para comigo. Certo dia, dois cavalos fugiram e nós dois fomos atrás deles. Mais parecia um despique para ver quem fazia melhor o trabalho. Não me deixando intimidar por nada, consegui alcançar primeiro os cavalos e não os deixei voltar a fugir, começando a colocar um laço ao pescoço para voltarem comigo.
Mark quando chegou ao pé de mim fez o mesmo, só que o cavalo em que ele estava a colocar o laço, estava inquieto e empinou-se nas patas traseiras. Para que não lhe acertasse com as patas dianteiras, recuou e tropeçou numa pedra. Caindo assim em cima de mim, só que em vez de se levantar, deixou-se ficar e começou a acariciar-me o rosto e para minha admiração, beijou-me.
Quando alguns homens estavam a aproximar-se, levantou-se de rompante  levantando-me também.
- Vocês estão bem? – Perguntou um deles.
- Sim, estamos. – Respondi eu.
- A menina é que passa o tempo a cair. – Disse Mark sem olhar para mim.
Os homens estranharam pois conheciam-me bem e sabiam que não era bem assim, souberam que algo não estava bem. – Dália, tem a certeza que está bem!?
Abanei a cabeça para dizer que sim, voltamos para junto dos outros sem dizer uma única palavra.
Nessa noite quando estava acariciando Trevo, Mark surgiu-me por trás silenciosamente começando acariciar-me os meus longos cabelos.
Virei-me assustada afastando sua mão de mim. – O que estás aqui a fazer? – Perguntei-lhe eu voltando de novo para Trevo.
- Hoje não montas? – Perguntou ele um pouco simpático.
- Não respondas com outra pergunta. E isso não é da tua conta.
- E se eu te disser que gosto de te ver a galopar à luz do luar? – Disse ele quase a sussurrar, aproximando-se de mim e pegando-me pela cintura.
- Não acreditaria em ti. – Respondi-lhe afastando-me dele. – Se não te importas, quero ficar sozinha.
- Não antes disto. – Começando a beijar-me intensamente e abraçar-me, parou quando se ouviu passos lá fora. – Tem uma boa noite. – Piscou-me o olho e saiu.
Era meu pai, que tinha ido me procurar. Andava preocupado tal como minha mãe. – Está tudo bem, pequenina?
- Não sou mais pequenina pai, e sim estou bem. – Respondi eu ajeitando o cabelo.
- Tens a certeza? É que tens andado muito estranha nos últimos tempos.
- Não é nada. Pai, se não se importa amanhã não vou trabalhar, quero ir galopar um pouco sozinha. – Estava a precisar de pensar um pouco, realmente nos últimos tempos sentia-me diferente, e a forma que Mark me tratava era irritante, para não falar das últimas atitudes dele.
- Claro querida, também precisas de descansar um pouco, não é só trabalhar. – Respondeu ele sorrindo-me. – Mas agora vamos voltar para casa, o descanso também requer umas horas de sono.
Saímos das cavalariças abraçados e quando estávamos a caminho reparei que Mark nos observava sentado a um das portas na companhia de outros homens, que estavam tocando viola.

***
Estava caminhado ao lado de Trevo descontraidamente pelo campo pensando nos últimos acontecimentos, quando me surge Mark na sua égua. Mas que raio! Eu queria estar sozinha e este aparece-me aqui!
- Olá, tudo bem? – Perguntou ele descendo da égua.
- Hum, hum. – Sem dizer mais continuando a caminhar.
- Fiquei preocupado, hoje não foste trabalhar! – Disse ele muito simpático.
- Hum! Desde quando te preocupas comigo!?  Se estás sempre feito arrogante comigo! – Fiquei surpresa por tal, realmente não espera ouvir tal coisa vindo dele.
- Talvez desde o dia que te trouxe para casa nos meus braços. – Respondeu ele muito sério, pondo sua mão no meu ombro esquerdo fazendo-me assim parar. – Adormeceste praticamente assim que te agarrei ao colo.
- Pois, não costumo ser assim. – Sentindo-me envergonhada ao relembrar.
- Eu sei, a tua mãe disse que não está habituada ao álcool. – Disse ele deixando-se rir.
- Mas o que estás aqui a fazer? – Perguntei-lhe olhando para os seus grandes olhos azuis.
- Queria dar-te isto. – E começou a beijar-me como na noite anterior só que desta vez com muita ternura.
Nossa! Mas que beijo! Mas fomos interrompidos pelo galopar de um cavalo, era meu pai. – O que estás aqui a fazer Mark!? – Perguntou ele surpreso de o ver ao meu lado.
- Desculpe senhor, é que meu pai disse que podia tirar o resto do dia, então vim dar um passeio e encontrei a menina Dália.
“- Este tipo é mesmo irritante! Porque não disse a verdade!?” - Pensava eu, quando dei por mim a falar em voz alta. – Que irritante. – Fazendo-os pensar errado.
- Desculpe incomoda-la menina. – Disse Mark montando na égua, pensando que não estava a gostar da companhia dele.
- Sim, é melhor ires. – Disse meu pai pensando que ele me estava a irritar. – Mark, amanhã podes tirar o dia de folga, em vez de tirar apenas bocados.
- Obrigado senhor, é o que farei. – Respondeu ele friamente e foi-se embora.
À noite quando nos cruzamos nas cavalariças, ele estava de novo arrogante comigo. – Mas que raio te fiz, para me tratares mal?
- Não me dou com meninas mimadas. – Respondeu arrogantemente, virando-me as costas e foi-se embora.
“Sou mesmo uma idiota! Se um tipo como ele se interessasse por mim seria por ser filha do patrão, não por gostar de mim”. Saí das cavalariças a correr, as lágrimas corriam-me pelo rosto abaixo só de pensar em tal coisa. Esbarrando num pequeno grupo de homens e sem me desculpar por tal.
Entrei em casa batendo com as portas, fui para o quarto e deitei-me na cama a chorar até adormecer.
Na manhã seguinte depois de me levantar bebi apenas um copo de leite. Andei pela casa como uma muda sem dizer uma única palavra, apesar de minha mãe insistir em saber o que se passava comigo.
 À hora do almoço não toquei no comer, sai da mesa apanhei o chapéu e fui para as cavalariças. Preparei Trevo e fui galopar, tomando o caminho da cachoeira, era um dos meus sítios preferidos da herdade. Adorava nadar no rio e pôr-me debaixo de água para que caísse em cima de mim.
Como ninguém vinha para a cachoeira eu despia-me toda para nadar, mas quando estava quase toda despida já só de tanga, surgiu-me Mark na água.
Tapei-me de imediato com a blusa e comecei a querer apanhar os calções para vestir.
- Ora, ora quem ela é! – Disse ele sarcasticamente.
- Mas o que fazes aqui!? – Perguntei surpresa por vê-lo ali, tentando me cobrir. – Será que podes virar para lá? Preciso de vestir-me. – Sentindo-me a corar.
- Há algum problema em olhar!? – Perguntou ele saindo da água.
Credo ele está pelado, virei-lhe as costas vestindo depressa a blusa, quando ia a desatar a correr ele impediu-me pegando no braço fazendo-me virar para ele. – Solta-me. – Disse eu sem êxito.
- Sabias que ficas linda, quando estás envergonhada? – Disse ele sorrindo e com a outra mão acariciou-me o rosto.
- É melhor me soltares cretino, não faço o teu tipo. – Disse eu quase a gritar com ele. Ainda estava irritada pela maneira que me tem vindo a tratar, só de pensar na possibilidade do único interesse em mim era de ser filha do patrão…
- Não te precisas exaltar, por me veres assim. – Disse ele soltando-me.
- Seu cretino arrogante, deixa-me em paz. – Disse já a chorar. Maldição! Agora viu-me a chorar e comecei a correr.
Não fui longe porque ele foi atrás de mim, agarrou-me pelo braço e fez-me olhar para ele. – Mas do que estás a falar!? Eu não sou nenhum cretino.
- Não és!? Então como explicas de passares o tempo a maltratar, beijares-me e… - Fui interrompida por um beijo.
Depois de ter-me beijado ofegantemente mal conseguia falar, por fim conseguiu dizer. – Talvez por te amar, como nunca amei ninguém.
Eu estava igualmente ofegante, afundei meu rosto em seu peito e continuei a chorar. Ele levantou-me o rosto com a sua mão, sorrindo. – Parece que somos os dois uns idiotas, por não sabermos lidar com os nossos sentimentos.
Deixei-me sorrir para ele. – Parece que tens razão.
E ali estávamos nós no meu sítio preferido a declararmo-nos um ao outro. Ele encostou-me a um tronco de uma das árvores que ali havia, beijou-me e abraçou-me intensamente e eu retribui todas as sua carícias.

Fim


Paula Perleques

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