Finalmente chegou o fim de ano escolar. Hoje à noite vou
sair com os meus amigos, mas o que me deixa mais animada é que a partir de
amanhã posso ir para o campo com meu pai. Minha mãe diz que saio a ele na
paixão pelos cavalos, daí querer seguir o seu trabalho a seu lado, cuidar do
que é nosso.
Nós somos criadores de cavalos de Puro-sangue Lusitano,
porque são uns cavalos incríveis, muito versáteis, muito dóceis, ágeis e muito
corajosos. Como a nossa herdade é enorme empregamos muita gente e temos alguns
caseiros, mas não pode ser qualquer um, têm que ter amor pelos animais.
- Dália, amiga, mas quem é o bonzão que está lá fora? –
Perguntou a minha amiga Lisa ao entrar no quarto abanando-se toda, quando me
estava a terminar de vestir para sairmos.
- Hum? Mas qual bonzão!?
- O tipo louraço, olhos azuis e musculado! Amiga mas não
tens olhos para ver!? – Perguntou ela surpresa por não saber de quem falava,
realmente ainda não tinha visto ninguém com essa descrição.
- Lisa amiga, não há ninguém com essa descrição por estas
bandas. – Respondi-lhe eu, mas lembrei-me que meu pai tinha contratado mais um
casal alemão para caseiros e que tinham um filho pouco mais velho do que eu. –
Espera, agora me lembro, deve ser o filho dos novos caseiros, parece que são
alemães.
- Amiga, nesse caso tens que mo apresentar.
- Ficaste doida!? Nem sequer o conheço, aliás, nem sequer
ainda o vi.
- Mas quando o conheceres. – Disse ela sorrindo.
- Lisa é melhor irmos, a tua mãe está à nossa espera. –
Disse eu terminando de me pentear e apanhado a minha mala. – Esse vestido
fica-te mesmo bem. – Elogiei o seu vestido curto de cor preto.
- Obrigado, também tas muito bem.
- Obrigado. – Vestia uns curtos calções simples pretos com
um top justo vermelho. – Tchau mãe, pai até mais logo.
- Não poderei ir-te buscar, mandarei o Mark. – Disse meu pai
de roda de alguns papéis. – Tenham juízo meninas.
- Ok, nós somos ajuizadas pai. – Respondi-lhe eu dando-lhes
um beijo a cada um.
Lá fomos nós ter com os nossos amigos, primeiro jantámos, depois
sim, fomos para a discoteca divertirmo-nos. Realmente foi uma noite bem
divertida, até eu que não costumo beber, acabei bebendo um pouco mas, acho que
fiquei bêbeda ao terceiro copo por não estar habituada ao álcool. Pelas duas
horas apareceu um tipo corpulento a dizer que tinha ordens de meu pai para me
levar para casa. – Bom, deves ser o Mark, certo? – Estava a ver tudo a rodar.
Ele apercebeu-se de que eu não estava bem, agarrou-me ao colo e levou-me para o
jipe. Hum! Acho que assim que fui colocada no banco adormeci e só acordei no
dia seguinte já na minha cama. – Hããã, estou na minha cama!? – Realmente não me
lembrava de nada, espero não ter feito nenhuma asneira, era só no que pensava.
Levantei-me, tomei um duche frio antes de sair do quarto e
fui ter à cozinha. Tirei um sumo de laranja para beber um pouco, quando uma
senhora que não conhecia entrou na cozinha e assustei-me.
- Desculpe menina, não a queria assustar. – Disse a senhora
simpática.
- Não faz mal, acho que ainda estou meio a dormir, só isso.
E você quem é? – Perguntei bocejando.
- Sou a Mary, a nova empregada. Como se sente hoje? O meu
filho ontem já a trouxe a dormir para casa.
- Apesar da dor de cabeça, bem obrigado. – Massajei a fonte
do lado direito, estava ainda latejando.
Terminei de beber o sumo de laranja e de comer uma metade de
umas sandes de fiambre, despedi-me de Mary e saí da cozinha. Já era tarde e
doía-me a cabeça mas, mesmo assim fui para os estábulos preparar o meu cavalo
para ir ter com meu pai.
***
Estava eu a terminar de colocar a cela no meu cavalo quando
surgiu um rapaz louro de olhos azuis, ainda não o tinha visto por aqui a
trabalhar, mas lembrei-me vagamente da noite anterior, era o mesmo rapaz que me
tinha ido buscar à discoteca.
- Bom dia. – Falei eu. – Desculpa, por acaso és o Mark?
- Sim. – Respondeu ele parecia ser de poucas palavras.
- Obrigado por ontem…
- Era a minha obrigação. – Respondeu arrogantemente.
Acrescentando ainda. – Menina dos papás. – Montou numa égua branca e foi-se
embora.
- Mal-educado. – Gritei-lhe eu. - Mas que mal lhe fiz para
ser arrogante? - Após ter terminado de preparar o meu cavalo, montei e fui ter
com meu pai e os homens, sabia exactamente onde os encontrar.
Para meu azar mesmo quando estava a chegar, o meu cavalo
assustou-se com uma maldita cobra, empinando-se nas patas traseiras. Não me
consegui suster e caí de costas no chão. Mark era quem estava mais perto e
correu para mim para me ajudar. Eu já me estava a levantar, quando ele me pegou
no braço e me levantou num ápice. – Obrigado, uma vez mais.
- Toma mais cuidado para a próxima.
- Eu tomo cuidado, só que fui apanhada de surpresa.
- Estás bem Dália? – Perguntou meu pai descendo do seu
cavalo preocupado comigo.
- Sim, estou bem pai. – Respondi eu dando-lhe um beijo.
- Devias voltar para casa. – Disse-me ele ainda preocupado.
- Não é preciso, estou bem. Vamos ao trabalho? – Perguntei
eu toda animada voltando a montar no meu cavalo.
- Trabalhar!? Isto não é nenhum recreio para miúdas mimadas.
– Disse Mark voltando também a montar no seu cavalo.
Do que ele não esperava era que eu trabalhava lado a lado
com os homens. Durante todo o dia, fiz tudo como ele, mesmo depois de almoço
regressei para terminar o dia. Já eram horas de jantar e ainda estava nas
cavalariças cuidando do meu cavalo e enquanto não o lavei, escovei e verifiquei
os cascos, não fui para casa. Mary teve que me vir chamar para ir jantar. Mark
estava de longe a observar-me, o que estaria a pensar?
Depois do jantar regressei para junto de meu cavalo e voltei
a montá-lo, adorava montar ao luar e muitas vezes nesse passeio nocturno, não
colocava cela. Estava eu cavalgando quando Trevo voltou a assustar-se com algo
que surgiu por trás, mas que raio o que se passa hoje com ele para andar
assustadiço?
Escorreguei e voltei a cair de lado e desta vez em cima de
alguém. Quando olho, era Mark que estava debaixo de mim, este por sua vez, deu
meia volta ficando por cima de mim e assim ficou uns breves instantes mas
acabei por faze-lo sair de cima e levantei-me de rompante.
- Desculpa cair-te em cima. – Disse eu me afastando dele e
me aproximando de Trevo.
- Não tens de que. – Disse ele também e levantando-se
virando-me as costas.
***
Todos os dias ia trabalhar com meu pai e todos os dias Mark
era arrogante para comigo. Certo dia, dois cavalos fugiram e nós dois fomos
atrás deles. Mais parecia um despique para ver quem fazia melhor o trabalho.
Não me deixando intimidar por nada, consegui alcançar primeiro os cavalos e não
os deixei voltar a fugir, começando a colocar um laço ao pescoço para voltarem
comigo.
Mark quando chegou ao pé de mim fez o mesmo, só que o cavalo
em que ele estava a colocar o laço, estava inquieto e empinou-se nas patas
traseiras. Para que não lhe acertasse com as patas dianteiras, recuou e
tropeçou numa pedra. Caindo assim em cima de mim, só que em vez de se levantar,
deixou-se ficar e começou a acariciar-me o rosto e para minha admiração,
beijou-me.
Quando alguns homens estavam a aproximar-se, levantou-se de
rompante levantando-me também.
- Vocês estão bem? – Perguntou um deles.
- Sim, estamos. – Respondi eu.
- A menina é que passa o tempo a cair. – Disse Mark sem
olhar para mim.
Os homens estranharam pois conheciam-me bem e sabiam que não
era bem assim, souberam que algo não estava bem. – Dália, tem a certeza que
está bem!?
Abanei a cabeça para dizer que sim, voltamos para junto dos
outros sem dizer uma única palavra.
Nessa noite quando estava acariciando Trevo, Mark surgiu-me
por trás silenciosamente começando acariciar-me os meus longos cabelos.
Virei-me assustada afastando sua mão de mim. – O que estás
aqui a fazer? – Perguntei-lhe eu voltando de novo para Trevo.
- Hoje não montas? – Perguntou ele um pouco simpático.
- Não respondas com outra pergunta. E isso não é da tua
conta.
- E se eu te disser que gosto de te ver a galopar à luz do
luar? – Disse ele quase a sussurrar, aproximando-se de mim e pegando-me pela
cintura.
- Não acreditaria em ti. – Respondi-lhe afastando-me dele. –
Se não te importas, quero ficar sozinha.
- Não antes disto. – Começando a beijar-me intensamente e
abraçar-me, parou quando se ouviu passos lá fora. – Tem uma boa noite. –
Piscou-me o olho e saiu.
Era meu pai, que tinha ido me procurar. Andava preocupado
tal como minha mãe. – Está tudo bem, pequenina?
- Não sou mais pequenina pai, e sim estou bem. – Respondi eu
ajeitando o cabelo.
- Tens a certeza? É que tens andado muito estranha nos
últimos tempos.
- Não é nada. Pai, se não se importa amanhã não vou
trabalhar, quero ir galopar um pouco sozinha. – Estava a precisar de pensar um
pouco, realmente nos últimos tempos sentia-me diferente, e a forma que Mark me
tratava era irritante, para não falar das últimas atitudes dele.
- Claro querida, também precisas de descansar um pouco, não
é só trabalhar. – Respondeu ele sorrindo-me. – Mas agora vamos voltar para
casa, o descanso também requer umas horas de sono.
Saímos das cavalariças abraçados e quando estávamos a
caminho reparei que Mark nos observava sentado a um das portas na companhia de
outros homens, que estavam tocando viola.
***
Estava caminhado ao lado de Trevo descontraidamente pelo
campo pensando nos últimos acontecimentos, quando me surge Mark na sua égua.
Mas que raio! Eu queria estar sozinha e este aparece-me aqui!
- Olá, tudo bem? – Perguntou ele descendo da égua.
- Hum, hum. – Sem dizer mais continuando a caminhar.
- Fiquei preocupado, hoje não foste trabalhar! – Disse ele
muito simpático.
- Hum! Desde quando te preocupas comigo!? Se estás sempre feito arrogante comigo! –
Fiquei surpresa por tal, realmente não espera ouvir tal coisa vindo dele.
- Talvez desde o dia que te trouxe para casa nos meus
braços. – Respondeu ele muito sério, pondo sua mão no meu ombro esquerdo
fazendo-me assim parar. – Adormeceste praticamente assim que te agarrei ao
colo.
- Pois, não costumo ser assim. – Sentindo-me envergonhada ao
relembrar.
- Eu sei, a tua mãe disse que não está habituada ao álcool.
– Disse ele deixando-se rir.
- Mas o que estás aqui a fazer? – Perguntei-lhe olhando para
os seus grandes olhos azuis.
- Queria dar-te isto. – E começou a beijar-me como na noite
anterior só que desta vez com muita ternura.
Nossa! Mas que beijo! Mas fomos interrompidos pelo galopar
de um cavalo, era meu pai. – O que estás aqui a fazer Mark!? – Perguntou ele
surpreso de o ver ao meu lado.
- Desculpe senhor, é que meu pai disse que podia tirar o
resto do dia, então vim dar um passeio e encontrei a menina Dália.
“- Este tipo é mesmo irritante! Porque não disse a
verdade!?” - Pensava eu, quando dei por mim a falar em voz alta. – Que
irritante. – Fazendo-os pensar errado.
- Desculpe incomoda-la menina. – Disse Mark montando na
égua, pensando que não estava a gostar da companhia dele.
- Sim, é melhor ires. – Disse meu pai pensando que ele me
estava a irritar. – Mark, amanhã podes tirar o dia de folga, em vez de tirar
apenas bocados.
- Obrigado senhor, é o que farei. – Respondeu ele friamente
e foi-se embora.
À noite quando nos cruzamos nas cavalariças, ele estava de
novo arrogante comigo. – Mas que raio te fiz, para me tratares mal?
- Não me dou com meninas mimadas. – Respondeu
arrogantemente, virando-me as costas e foi-se embora.
“Sou mesmo uma idiota! Se um tipo como ele se interessasse
por mim seria por ser filha do patrão, não por gostar de mim”. Saí das
cavalariças a correr, as lágrimas corriam-me pelo rosto abaixo só de pensar em
tal coisa. Esbarrando num pequeno grupo de homens e sem me desculpar por tal.
Entrei em casa batendo com as portas, fui para o quarto e
deitei-me na cama a chorar até adormecer.
Na manhã seguinte depois de me levantar bebi apenas um copo
de leite. Andei pela casa como uma muda sem dizer uma única palavra, apesar de
minha mãe insistir em saber o que se passava comigo.
À hora do almoço não
toquei no comer, sai da mesa apanhei o chapéu e fui para as cavalariças.
Preparei Trevo e fui galopar, tomando o caminho da cachoeira, era um dos meus
sítios preferidos da herdade. Adorava nadar no rio e pôr-me debaixo de água
para que caísse em cima de mim.
Como ninguém vinha para a cachoeira eu despia-me toda para
nadar, mas quando estava quase toda despida já só de tanga, surgiu-me Mark na
água.
Tapei-me de imediato com a blusa e comecei a querer apanhar
os calções para vestir.
- Ora, ora quem ela é! – Disse ele sarcasticamente.
- Mas o que fazes aqui!? – Perguntei surpresa por vê-lo ali,
tentando me cobrir. – Será que podes virar para lá? Preciso de vestir-me. –
Sentindo-me a corar.
- Há algum problema em olhar!? – Perguntou ele saindo da
água.
Credo ele está pelado, virei-lhe as costas vestindo depressa
a blusa, quando ia a desatar a correr ele impediu-me pegando no braço
fazendo-me virar para ele. – Solta-me. – Disse eu sem êxito.
- Sabias que ficas linda, quando estás envergonhada? – Disse
ele sorrindo e com a outra mão acariciou-me o rosto.
- É melhor me soltares cretino, não faço o teu tipo. – Disse
eu quase a gritar com ele. Ainda estava irritada pela maneira que me tem vindo
a tratar, só de pensar na possibilidade do único interesse em mim era de ser
filha do patrão…
- Não te precisas exaltar, por me veres assim. – Disse ele
soltando-me.
- Seu cretino arrogante, deixa-me em paz. – Disse já a
chorar. Maldição! Agora viu-me a chorar e comecei a correr.
Não fui longe porque ele foi atrás de mim, agarrou-me pelo
braço e fez-me olhar para ele. – Mas do que estás a falar!? Eu não sou nenhum
cretino.
- Não és!? Então como explicas de passares o tempo a
maltratar, beijares-me e… - Fui interrompida por um beijo.
Depois de ter-me beijado ofegantemente mal conseguia falar,
por fim conseguiu dizer. – Talvez por te amar, como nunca amei ninguém.
Eu estava igualmente ofegante, afundei meu rosto em seu
peito e continuei a chorar. Ele levantou-me o rosto com a sua mão, sorrindo. –
Parece que somos os dois uns idiotas, por não sabermos lidar com os nossos
sentimentos.
Deixei-me sorrir para ele. – Parece que tens razão.
E ali estávamos nós no meu sítio preferido a declararmo-nos
um ao outro. Ele encostou-me a um tronco de uma das árvores que ali havia,
beijou-me e abraçou-me intensamente e eu retribui todas as sua carícias.
Fim
Paula Perleques
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