segunda-feira, 19 de março de 2012

Suspiro...

Deixamos-te um romance, da Mariana Campos, uma nova leitora do nosso blog...
Delicia-te com este doce romance... E deixa-nos a tua opinião :)


PRÓLOGO


Havana, Cuba
1959
    
     O rapaz alto que estava de costas sentado num banco de bar apoiava a mão em volta de um copo com Cuba Livre. O seu cabelo apresentava um negro acastanhado. Os músculos das suas costas estavam contraídos e bem definidos.
     As paredes do clube eram de um vermelho alaranjado, cobertas com alguns pósteres da data. O bar tinha duas longas prateleiras com bebidas e um balcão em madeira escura e bem cuidada. Havia um pequeno palco onde os músicos tocavam jubilosamente, e uma multidão dançava apaixonadamente ao som do ritmo latino.
     As mulheres eram muito bem constituídas e sensuais. Com cabelos castanhos, olhos da mesma tonalidade e lábios cheios. Os homens eram donos de um físico trabalhador e musculado. Tinham também as mesmas características que as mulheres e a pele de ambos os sexos era de um tom quente e puro.
     Por esta altura a música era calma mas sensual.
     Uma mão pousou no ombro do rapaz de cabelos escuros.
     Uma luz projectada de um pequeno candeeiro de tecto incidia sobre os seus cabelos negros, e sobre a escuridão deste, a fraca luza parecia ganhar vida.
     O rapaz de cabelos negros girou a cabeça ligeiramente para a esquerda, onde um rapaz de cabelos loiros arruivados e olhos azuis se sentava. Trazia vestido uma camisa azul escura com uma t-shirt de alças brancas por baixo. Fez sinal ao empregado, e este assentiu com a cabeça.
     - Tenho andado a pensar – disse o rapaz de olhos azuis.
     - James – Interrompeu o primeiro rapaz. – Já tomei a minha decisão. Vou seguir para a frente com isto.
     - Sim, eu sei. É por isso que estou aqui. – Fez uma pausa. O empregado serviu-lhe o seu habitual whisky com duas pedras de gelo. – Vou contigo.
     O rapaz de olhos negros riu-se e abanou a cabeça. Fitou a sua bebida, deu um gole e por fim respondeu:
     - Nunca mudas, meu. Sempre a gozar.
     - Estou a falar a sério, meu. Nunca lá estive, e para ser sincero, preciso de mudar de «ares». Para além do mais – esboçou um sorriso que era fruto de uma piada pessoal - preciso de conhecer novas belezas. – Piscou o olho ao amigo.
     - Lá que te ias adaptar bem às «belezas», ias.
     Ambos deram um gole nas suas bebidas, e um momento de silêncio surgiu, sendo mais tarde quebrada por James.
     - Mas afinal de contas, o que é que vais lá fazer ao certo, Diogo?
     A atenção de Diogo, o rapaz de olhos negros e cabelos castanhos-escuros, desviara-se para um casal que dançava apaixonadamente nos braços um do outro.
     Depois de alguns minutos, voltou o olhar de novo para o seu copo e respondeu ao amigo.
     - A Lea disse que muito brevemente teria de a proteger. – Bebeu um pouco mais da bebida que tinha entre as mãos. – Disse que quando fosse para lá não poderia voltar até a encontrar. – Fez uma expressão que mostrava que estava algo confuso. – Ela não disse o porquê de eu ter de fazer tudo isto. Simplesmente disse que quando o fizesse, veria o mundo com outros olhos, pelo menos veria algo à minha maneira.
     - Sabes que é um tiro no escuro o que estás a fazer, certo? – Perguntou James. Tinha uma expressão relaxada, mas também curiosa.
     - Já me decidi.
     Ouviu-se um estrondo forte vindo da rua. Todas as pessoas que se encontravam no clube correram para a porta de saída. Os dois rapazes fizeram o mesmo
     Cá fora uma carrinha militar disparava tiros, não para magoar alguém, mas para celebrar algo. Gritavam em castelhano: “¡Viva la revolución. Cuba es un país libre!”.
     Ao ouvirem a mensagem, os cubanos gritavam de alegria. Os mais velhos cantavam, os jovens beijavam e abraçavam as suas apaixonadas e as crianças na rua saltavam e gritavam, acompanhando os adultos. Toda a gente festejava em alegria e histerismo. Cuba era finalmente um país livre!
     Já passava pouco das duas horas da manhã, mas mesmo assim toda a gente unia-se e celebrava a tão esperada revolução de há anos.
     Os dois rapazes estavam encostados à enorme porta aberta do clube, onde se podia ler por cima pintado com tinta preta La Noche Libre.
     Para comorarem a revolução acenderam dois charutos cubanos. Olharam um para o outro.
     - Preparado para Portugal? – Perguntou James.
     - Já nasci preparado. – Respondeu Diogo, fitando a rua celebrante.
     Os dois rapazes caminharam para a noite, na direcção oposta da celebração. Agora sabiam o que teriam de fazer e com quem falar.



                                                  Capítulo 1 (2ª)




 Cascais, Lisboa
Presente

   A porta abriu-se suavemente, mesmo assim provocou um pequeno chiar.  
    - Querida acorda.
     - Mãe! – Respondi ainda ensonada. - A sério? Sabes que horas são?!
     - Por isso mesmo é que estou aqui. Já são dez e meia…
     - Oh não! Vou chegar atrasada! Bolas!
     Boa, tinha começado muito bem o meu primeiro dia de férias! Chegar logo atrasada a um compromisso! Não era bem um compromisso sério, mas mesmo assim, era um compromisso.
     Pelo canto do olho, vi a minha mãe sorrir e sair do quarto.  
     Corri para a casa de banho. Pus-me em frente ao espelho e para não variar, o meu cabelo estava todo despenteado. Dava-me sempre algum trabalho penteá-lo pelo facto de ser longo, com umas pequenas ondinhas naturais. Os meus olhos pareciam um pouco cansados. O castanho-chocolate natural estava esquisito e estranho.
      Quase voei ao descer as escadas apressadamente, ao mesmo tempo que a mala me batia na cintura.
     - Até logo mãe.
     - Espera Alice, ainda nem sequer tomaste o pequeno-almoço!
     Agarrei num yogurt e numa maçã.
     - Depois como mais alguma coisa. – Dei um beijinho apressado na sua bochecha e corri na direcção da porta.
     - Come mesmo! – Preocupava-se sempre, como uma mãe o fazia da melhor maneira que sabia.
     - Sim mãe!
     Mesmo a sair de casa à pressa já estava atrasada uns quinze minutos para chegar ao ponto de encontro. Comecei a andar que nem uma louca.
     Olhei precipitadamente para o céu e parecia estar uma manhã perfeita. O sol brilhava, o céu estava limpo, e o cheiro da maresia fazia-se sentir de uma forma atractiva.
     Ao chegar ao túnel da Praia da Poça, em frente à Junta de Freguesia do Estoril, já conseguia ver três pessoas encostadas a uma barra de metal desgastada e comprida. Pela posição dos seus corpos pareciam um pouco aborrecidas.
     - Desculpem! Adormeci.
     - Ai Alice, és sempre a mesma! - Resmungou Mafalda.
     - Já estamos à tua espera há quase vinte minutos, rapariga! - Sofia parecia também aborrecida.
     - Tens de começar a madrugar!- Acrescentou Joyce.
     - Ai, eu sei, eu sei! Desculpem a sério! – Na verdade não era típico atrasar-me, e na verdade estavam a ser um pouco exageradas. Mas era natural, afinal de contas ninguém gostava de esperar atrasos.
     - Bem, vamos lá para a praia…- Disse Mafalda por fim. Com um pequeno pulo saltou da barra e pegou na mala que estava a seus pés.
     -Boa ideia. - Respondi.
     - Bem meninas, temos de começar bem o nosso primeiro dia de férias, e o primeiro dia de praia! - Disse a Joyce.
     De repente olharam todas para mim. Apressei-me logo a responder em defesa.
     - Hei, eu já pedi desculpa.
     Sorrimos as quatro.
     - Mas vamos lá pegar nessa fabulosa ideia. Que tal brindar-mos a isso? – Mafalda parecia mais alegre. E na verdade, a sua sugestão parecia muito boa.
     - Óptima ideia! Bora ali ao bar. Vá pago eu. – Sofia começou a abrir a mala, pegando na carteira.
     Entrámos num bar e sentámo-nos numa das mesas desocupadas.
     Um empregado atendeu-nos logo. Algo nele fez-me arrepiar, não negativamente. Simplesmente tinha a sensação de o já ter visto.
     Reparei com a tenção de que as suas características físicas eram um pouco… fora do comum. O seu cabelo era loiro, mas muito claro. Pele também clara, e olhos azuis profundos. Se não fosse pelo simples facto de não usar óculos escuros ou por parecer dar-se perfeitamente bem com a claridade diria que era albino. Semicerrei discretamente os olhos e reparei que a sua boca era simplesmente bela. Os seus lábios não eram demasiado masculinos e o seu tom era de um rosa-cereja.
     - Bom dia. O que é que as meninas vão desejar?
     - Quatro Coca-Colas se faz favor.
     - A sério Sofia? Coca-cola? – Tal como nós, Joyce já se habituara às maluquices de Sofia, por isso a sua pergunta soara algo irónica.
     - Claro! Pago eu lembras-te? E além disso está-me a apetecer um refrigerante.
     - Por mim é na boa.- Disse a Mafalda
     - Ya, por mim também.- Concordei.
     - Então são quatro Colas certo? - Perguntou o empregado.
     - Yap - Respondeu a Sofia arrastando a palavra.
     - Com licença. – O empregado retirou-se educadamente.     
Reparei que Sofia olhava para ele de uma maneira que só ela sabia fazer. Já estava mesmo a adivinhar.
     - Hm nada mal. – Avaliou-o enquanto este contornava agilmente as mesas.
     -Oh Sofia, tu não mudas - Mafalda também se tinha apercebido do olhar ‘felino’ de sofia.
     - Uma pessoa tem de aproveitar as vistas. – Riu-se e levantou-se calmamente. - E acho que ele também ‘reparou’ em mim.
     - Despacha-te a ir à «casa de banho» - Disse a Joyce com um pequeno sorriso de «cúmplice».
     - E pronto, lá vai ela fazer o seu «truquesinho». Sem dúvida um…
     - Clássico! - Completei a deixa da Mafalda.
     Rimo-nos todas. A Sofia era sem dúvida uma rapariga ‘para a frente’, mas também boa amiga e divertida.
     - E teremos de aguardar pelo nosso brinde… Mas por falar em «rapazes» - Joyce olhou logo para mim - como é que vai isso entre ti e o Marcus?
     - Não vai. – Desviei os olhos por breves momentos, fitando o mar. - Nós acabámos definitivamente.
     - Mas ainda sentes algo por ele?
     - Noop. Ele já é passado. Vou aproveitar a ‘entrada’ do Verão para começar uma vida nova e fresca, agora é sempre a subir.
     - E fazes muito bem! - Exclamou Joyce enquanto sorria.
     Partilhámos as três um sorriso.
     Marcus. O meu ex namorado que conquistou esse título há cerca de meio mês. As coisas ainda eram um pouco «frescas». Porém, sempre que pensava na nossa recente separação, esta não fazia o meu coração bater mais depressa e depois devagar. Não me dava vontade de chorar de cada vez que me encontrava sozinha ou de morrer como uma rapariga da minha idade desejaria dramaticamente. Por algum motivo, desconhecido, ultrapassara bem o fim do nosso namoro. Talvez porque não fora uma relação normal, ou porque se calhar Marcus não era o meu grande amor. Não sei.
     Já de volta, Sofia vinha com um ligeiro sorriso escondido.
     - Então, deu resultado? - Perguntei.
     -Está quase…- Respondeu com a sua típica expressão matreira
     - Está bem, está bem…- Joyce riu-se revirando os olhos dramaticamente.
     O empregado voltou com uma bandeja prateada e quatro latas de Coca-Cola acabadinhas de sair do frio.
     - Vamos lá ao brinde! - Propôs Mafalda.
     - Então, a um começo de Verão fantástico! - Começou Joyce.
     - A um Verão divertido! - Seguiu Mafalda.
     - A um Verão com romance! - Propôs logo a Sofia.
     - Ao melhor Verão de sempre! - Fechei o brinde.
     Erguemos as Coca-Colas e brindámos.
     Levantámo-nos e dirigimo-nos para o balcão, para pagar. 
     Como era de esperar, Sofia ajeitou-se logo e dirigiu-se ao empregado, que já começara a fazer o registo.
     Ficámos ao pé da porta à espera.
     Quando Sofia deu meia volta e veio na nossa direcção, reparei que trazia uns rebuçados na mão e claro, um papelinho branco.
     - Oh, não me digas que quiseste ficar com a factura. - Gozou Joyce.
     - Unhum - Respondeu abanando a factura. O seu sorriso glorioso era sempre bom sinal.
     Quando chegou, discretamente mostrou-nos a parte de trás da factura. Os dígitos de um número de telemóvel sobressaíam com a cor preta.
     - Tens de me dizer qual é o teu truque. - Mafalda sorriu e abriu a porta.
     - Ora, até parece que não sabes que “o segredo é a alma do negócio”?
     -Pois claro. – Comecei-me a rir.
     - Bem, agora vamos para o Tamariz, certo? - Perguntou Sofia. Retirou os seus óculos de sol e posou-os na cara.
     - Yap - respondeu Joyce.
     Ao chegarmos ao Tamariz reparei que a praia estava, como sempre, cheia de gente.
     Caminhámos pelo caminho de pedra e em pouco tempo alcançámos a areia. Pousámos as malas e estendemos as toalhas.
     - Sofia guarda bem a factura! – Para variar, Joyce gizava sempre com Sofia.
     Nunca percebera muito bem a amizade destas duas. Não tinha a dúvida de que eram amigas, mas andavam sempre às turras uma com a outra.
     - Baaah!- Respondeu a Sofia com uma careta.
     Abriu a carteira e muito cuidadosamente guardou o número do rapaz.
     - Bora à água? – Perguntei com o vestido já despido.
     - Boora! - Respondeu a Mafalda.
     Ao chegar à beira-mar a Joyce queixou-se logo:
     - Ai que fria!
     -Anda lá, não sejas medricas! – Comentou Sofia. De uma só vez, salpicou a Joyce por inteiro.
     Entrámos todas na água e demos uns mergulhos.
     Sabia bem poder sentir de novo a ondulação da água e o ligeiro arrepio que esta provocava. Já tinha saudades de mergulhar e nadar, nadar e nadar.
     - Mafalda passas-me o óleo se faz favor? - Perguntou a Sofia quando já nos encontrávamos deitadas nas toalhas.
     - Este ano tenho que ficar bem bronzeada! – Comentei enquanto passava um pouco de creme bronzeador no braço.
     Passara a maior parte do ano pálida. Agora queria vingar o tom da sua pele pelos meses de sol perdidos.
     - Nada que umas gotinhas de óleo não resolvam. - Respondeu Sofia enquanto se besuntava da cabeça aos pés com o óleo.
     Ficámos ali deitadas a apanhar os tão desejados banhos de sol.
     Assim que repousei, senti de imediato o sol actuar, o que significava que hoje estava um dia bem calorento e abafado. Não era normal começar logo a sentir a onda de calor que pousava descontraidamente na minha pele, embora gostasse de ver a minha pele bronzeada, não apreciava nada um escaldão. Abri a minha bolsa dos cremes e tirei de lá o protector solar.
     Ouvi o som de umas raquetas, e como já estávamos há algum tempo ali deitadas decidi propor uma partida de volley.
     - Quem quer jogar Volley?
     -Boa, alinho nisso! – Joyce levantou-se rapidamente e sacudiu um bocado da areia que tinha nas pernas. - Já sinto as nádegas a arder!
     Assim que se virou na direcção do mar, começámo-nos as três a rir. As pernas de Joyce pareciam ter sido atacadas por uma mangueira com tinta cor-de-rosa.
     - Acho que apanhaste um escaldão! - Disse a Sofia ainda a recuperar do riso.
     - Cala-te, não apanhei nada!
     - Ah isso é que apanhaste! - Confirmou Mafalda.
     - Nossa! - Disse Joyce olhando para a parte de trás - vou pôr protector solar…
     - Podes usar o meu se quiseres. – Apontei-lhe o meu e de seguida levantei-me
     - Ok, obrigada. - Respondeu esboçando um pequeno sorriso.
     Olhei para o céu e o sol já ia a meio deste.
     Quando era mais nova, o meu pai ensinara-me a ver aproximadamente as horas só de olhar para o sol. Na altura não percebera qual a importância disso e, muito pacientemente, explicara-me que nem sempre devíamos ficar dependentes de um objecto para sabermos uma simples informação como as horas.
     Começámos a jogar. Já tinha saudades de jogar volley na praia, mas tinha de admitir que estava enferrujada.
     Estava a fazer um bom jogo, quando a bola veio na minha direcção, e para a conseguir fazer o passe tinha que andar rápido para trás. Estava mesmo quase, quando de repente senti alguém a chocar costas contra mim. Os nossos pés cruzaram-se e caímos os dois, um em cima do outro.
     - Peço desculpa! Estás bem? - Perguntou o rapaz.
     Estendeu o braço delicadamente. Apertei-lhe a mão e quase voei quando este me ajudou a levantar.
     - Obrigada. Magoei-te?
    Sorriu e abanou a cabeça.
     - Ainda estou intacto. Chamo-me Diogo já agora. – Estendeu a mão.
     - Alice - Apertei a mão educadamente.
     - Alice. Nome bonito… Vemo-nos por aí Alice- disse ele, afastando-se e esboçando um sorriso.
     - Sim, vemo-nos por aí…- respondi um bocado atrapalhada enquanto rodava a bola nas minhas mãos.
     Quando ia voltar para junto das minhas amigas, reparei que o rapaz girou nos calcanhares e virou-se de novo para mim com uma raquete nas mãos.
     - Ah é verdade, a minha sorte por ainda estar intacto é porque ainda consigo aguentar com coisas pesadas em cima. – Piscou-me o olho e voltou para junto dos amigos.
     Abri a boca para responder, mas nada saiu. Acabara agora mesmo de conhecer uma pessoa e já me estava a chamar de gorda? Cretino, pensei.
     - Uuuh, quem era aquele borracho Alice? – Perguntou logo a Sofia, quando voltei para junto delas.
     - É um rapaz, que foi contra mim…
     - Pois, pois - disseram as três em conjunto.
     Revirei os olhos e sorri.
     - Mas eu vi-vos a falar - Acrescentou Joyce.
     - Não era nada de mais. Pediu desculpa e tal… E apresentou-se.
     E chamou-me de gorda indirectamente, pensei.
     - Uuuh, até te disse o nome - gozou de novo Sofia.
     Revirei os olhos. Sorri, e abanei a cabeça.
     Servi a bola, dando início a um novo jogo.

     - Adorei o dia meninas, que tal combinar-mos de novo para amanhã? - Perguntou Mafalda.
     Encostou-se de novo à barra de ferro e pousou a mala.
     - Amanhã não me dá muito jeito…- Respondeu Joyce.
     - Pois, nem a mim.- Concordou Sofia.
     - Então depois falamos melhor sobre isso - Respondi.
     Despedimo-nos todas e cada uma seguiu na sua direcção.
     À vinda para casa, reparei que já se começava a notar o desfecho de uma tarde de Verão. Era uma como todas as outras, mas era porém a primeira destas férias.
     Senti-me aliviada quando cheguei a casa. Embora tivesse adorado o dia de praia, estava cansada e tudo o que queria encontrar agora era o conforto de um duche quente.
     - Mãe, cheguei. – Avisei.
     Fechei a porta e lancei-me para as escadas.
     - Olá querida. – Pôs a cabeça de fora do aro da cozinha e continuou. - Hoje vamos jantar fora.
     - Oi? Onde?
     - A Lisboa.
     - Hum, ok…
     Não me apetecia nada ir jantar fora, estava mesmo cansada. E ainda por cima ia ser daqueles jantares super aborrecidos. Mas pronto, ia fazer um esforço pelos meus pais.
      - Saímos daqui a meia hora. – Avisou a minha mãe no corredor.
     - Sim mãe, já estou quase.
     Tinha acabado de sair do banho. Sequei-me, vesti um vestido, um blazer e calcei umas sandálias.    
     Ao descer as escadas cruzei-me com o meu pai.
     - Uau Alice!
     - Ora pai, não estou nada de especial…- Respondi sorrindo.
     - Ai isso é que estás. – Devolveu-me o sorriso.
     Deu-me um beijo na testa, e seguiu para o quarto.
     - Já estou pronta mãe.
     Desci o último degrau e juntei-me à minha mãe na porta principal.
     - Ainda bem. Agora só falta o teu pai, para variar… Afonso, despacha-te! Nós já estamos prontas, querido.
     - Sim, sim, também já estou – Como sempre, o meu pai respondeu calmamente.
     Uma característica que sempre admirei no meu pai, era a sua capacidade de permanecer calmo em situações de stresse. Nunca percebi bem como é que os meus pais se interessaram um pelo outro. Costuma-se dizer que “os opostos atraem-se”, mas enfim.
     Estávamos a caminho do restaurante e seguíamos na Marginal.
     Já se notava no horizonte um longo traço de lusco-fusco. Era como se o céu se tivesse difundido entre o dia e a noite, lembrava-me uma linha de cetim, que acentuava o horizonte.
     Pousei a perna direita em cima da esquerda e sem querer, prendera uma ponta do vestido longo. Soltei-a e encostei a cabeça à janela. Fechei os olhos por momentos, tentando descansar um pouco a cabeça.
     -Ah é verdade, esqueci-me de te dizer. Um casal amigo nosso também vem jantar. – Fez uma pausa e entalou uma mexa de cabelo atrás da orelha. – Também têm um filho.
      - Ai mãe não me digas que o casal são os Andrade. Não me apetece fazer outra vez de ama-seca dos gémeos! É que estou um bocadinho cansada.
     O meu problema não era ter de conviver com dois meninos, filhos de um casal amigo dos meus pais. O meu problema era ter de conviver com os gémeos Andrade! Da última vez que partilhara uma refeição com estes diabinhos, digamos que as minhas calças preferidas conheceram, infelizmente, o caixote do lixo.
     - Não, este casal ainda não conheces, são os Abreu, e o filho deles é dois anos mais velho que tu, acho. – A minha mãe sorria. Através do espelho retrovisor interno, conseguia ver a minha expressão ligeiramente aflita. Sabia que eu passava horrores quando estava na presença daqueles dois diabretes.
     - Ah ok. – Respondi mais acalmada.
     Graças aos santos.


CONTINUA...

 Mariana Campos








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