Ao ouvir o maldito despertador a tocar, estiquei o braço para o calar mas entretanto ouviu-se cair algo e a campainha a tocar. - Mas que raio! Quando uma pessoa está a dormir bem é que há todo este barulho! - Olho para as horas, são sete da manhã - é verdade, hoje é o meu primeiro dia na empresa de indústrias têxteis!
Levantei-me repentinamente correndo para a casa de banho, a campainha parou de tocar. Felizmente posso-me arrumar em sossego. Meti-me debaixo do chuveiro – ah! Como sabe mesmo bem um banho quente! e lembrando do sucedido da noite anterior, Roberto terminara o namoro comigo ao fim de um ano dizendo que não era mulher suficiente, isto só porque não me sentia preparada para me entregar, tal como ele queria.
Ao sair do chuveiro assustei-me com Rosa, a empregada de minha mãe, que mora mesmo ao meu lado. – Ah! Que susto Rosa! – Gritei eu ao deparar-me com ela à minha frente.
- Desculpe menina, não a queria assustar. – Disse ela sorrindo - Sua mãe pediu-me para vir ver se estava levantada, parece que não se sentia lá muito bem ontem à noite.
- Não faz mal. E quantas vezes já te pedi para não me chamares de menina, quando a minha mãe não está presente. – Disse eu relembrando-a, porque somos amigas e é empregada de minha mãe não minha.
- É do hábito Cristiana, tens o pequeno-almoço preparado. Hum! Não me queres contar o que aconteceu ontem à noite!? – Perguntou ela vindo atrás de mim.
A princípio ignorei a pergunta pois não me apetecia falar do assunto. Fui ao roupeiro e tirei umas calças e casaco brancos e um top preto, e comecei-me a vestir.
- Vá lá Cristiana, o que aconteceu para regressares daquele jeito? – Insistiu ela sentando-se na ponta da cama.
- De qual jeito!?
- Cristiana conheço-te muito bem, saíste toda animada e regressaste desanimada. Sabes que podes contar comigo.
- Hum, Roberto terminou comigo. – Respondi eu por fim terminando de vestir o casaco. – Diz que não sou suficientemente mulher, só porque nunca me senti preparada para me entregar a ele.
- Deixa lá, ele é um idiota. Se realmente gostasse mesmo de ti, saberia esperar e não te pressionava. – Disse ela sorrindo. – Quem sabe, não irás conhecer alguém muito em breve, e que seja o tal!?
- Rosa, de momento não quero saber de rapazes, só dão dores de cabeça. Daqui para a frente só quero saber de trabalhar. – Respondi a ir para a casa de banho para arranjar o cabelo. Escovei-o e prendi-o num rabo-de-cavalo.
- Tu é que lá sabes! – Respondeu ela a descer as escadas. – Agora vê se te despachas, que o teu pai está à espera.
Corri escadas abaixo e dirigi-me para a cozinha onde bebi um iogurte de melancia e peguei um pak de bolachas para o caminho, e antes de sair arrumei a cozinha para não dar trabalho a Rosa. Comecei a ouvir a buzina do carro, realmente o meu pai já me esperava e estava cheio de pressa, hoje tem uma reunião muito importante com uma cliente. O caso era complicado, a senhora está a separar-se e disputava a custódia da filha de três anos.
Saí a correr metendo-me dentro do carro e desculpei-me pelo atraso. Bem… Não estava propriamente atrasada, o meu pai é que tinha sair mais cedo do costume.
- Boa sorte para hoje. Como te sentes? – Perguntou o meu pai pelo caminho.
- Um pouco nervosa, acho que é mais ansiosa pelo primeiro dia.
- Podias esperar mais um pouco para concluíres o curso de fotografia, e abrires o teu próprio estúdio.
- Prefiro ir trabalhando e depois logo se vê.
- Chegámos. Queres que te venha buscar quando saíres? – Perguntou ele enquanto parava para eu sair do carro.
- Não é preciso, vou de autocarro e se necessário de táxi. – Respondi eu dando-lhe um beijo rápido e saí do carro. – Raios, tinha que começar a chover agora! – Comecei a correr debaixo de água ainda coisa de pouco mais de dois metros. Entrei na indústria limpando-me. O tempo parece maluco, em pleno verão a cair uma chuvada destas.
Falei educadamente às pessoas que também estavam a entrar e surpreendidas pela chuvada. subi no elevador dirigindo-me para a presidência, onde iria trabalhar como secretária do senhor doutor Guilherme. Havia mais duas secretárias, não da minha idade, talvez cerca de vinte e quatro, vinte e cinco anos, muito bonitas e muito bem arranjadas.
Dirigi-me à rapariga morena e apresentei-me. – Bom dia. Sou a Cristiana e venho começar hoje trabalhar para o senhor doutor Guilherme.
- Bom dia, eu sou a Sónia e vamos trabalhar juntas. Vais ficar naquela secretária e atenderás ao doutor Guilherme, e possivelmente ao menino Felipe. – Respondeu ela sorrindo sarcasticamente, demonstrando o seu desagrado da minha presença. – O senhor doutor deve estar a chegar, assim que chegar entras atrás dele.
Agradeci e dirigi-me para a minha secretária. Preparei tudo e abri o computador, entretanto o senhor Guilherme chegou, e tal como Sónia me dissera, entrei com ele.
- Bom dia, senhor doutor. Como está? Eu sou a Cristiana e vou trabalhar com o senhor.
- Bom dia. Estou muito bem. Preciso que me chame o David, o director de gestão, por causa dos balanços e inventários. – Respondeu ele muito educado.
- É para já, senhor. – Respondi e saí da sala. Fui para a minha secretária e olhei para a lista telefónica interna que estava em cima da secretária, onde se encontrava o número do director de gestão. Olhei para o número e marquei-o. - Estou, senhor David?
- Sim. – Respondeu uma voz masculina do outro lado do auscultador.
- Bom dia, fala Cristiana, a nova secretária do senhor doutor Guilherme, o senhor doutor deseja-lhe falar por causa dos balanços e os inventários.
- Só mais cinco minutos e já vou.
- Obrigado, com a sua licença. – E desliguei o telefone.
Estava arrumando uns documentos dentro de umas pastas de costas viradas para a mesa, quando ouço uma voz masculina a falar as minhas colegas.
- Bom dia! Fátima e Sónia como estão hoje? – Perguntou a tal voz masculina.
- Bom dia David, connosco está tudo bem. – Responderam as duas raparigas sorrindo.
- Hum, hum, Bom dia. – Disse ele para mim.
Ao ouvi-lo virei-me para ele, também falando – Bom dia. – Mas ao virar-me de repente, ele deixou cair os papéis que trazia na mão ficando surpreso comigo, como se me conhecesse. – Está tudo bem consigo!? – Perguntei-lhe preocupada, dando a volta à secretária e comecei a ajudá-lo a apanhá-los.
- Hum! Está tudo bem, não preciso da sua ajuda. – Disse ele sem jeito sarcasticamente. – O senhor doutor deve estar à minha espera.
Levantei-me, bati com os nós dos dedos levemente na porta e de seguida abri-a. – Senhor doutor, o senhor David já se encontra aqui.
- Ele que entre.
- Pode entrar. – Disse-lhe eu, fechando a porta depois de ele entrar. Mas que sina a minha, nenhum colega vai com a minha cara.
Depois da reunião, David ao sair da sala mal olhou para mim, nem uma única palavra. Por fim o dia chegou ao fim e quando estava preste a sair, ouvi um comentário “- Cristiana é apenas uma criança, não dura uma semana.” “Felipe gosta de mulheres mais maduras, não de crianças.” A sorrirem.
“Mas que raio! O que elas querem exactamente dizer com aquilo!?”, pensava eu sem demonstrar que as tinha ouvido. Saí e fui para casa. Não há nada como um belo banho relaxante depois de um dia de trabalho. E agora só preciso de uma boa noite de sono.
Cheguei a cama para dormir mas não conseguia pregar olho. Do nada surgiu-me o rosto de David, um homem moreno bem constituído, decerto mais velho do que eu. Mas… porque reagiu assim comigo!?
Passadas algumas horas, finalmente, consegui adormecer.
***
A semana passara depressa e durante toda a semana ignorei os comentários das minhas colegas. Era dia vinte e sete de Agosto, dia de meu aniversário e lembrei-me de as convidar, para nos conhecermos melhor, mas a resposta delas foi: “- Nós não saímos com crianças, até admira o senhor doutor te aceitar a trabalhar para ele.”
Podem-me achar uma criança, mas cumpro com as minhas responsabilidades. Mais tarde quando vi David, não resisti e convidei-o, mas foi tão brusco e arrogante para comigo. Não sei o porquê mas senti-me magoada.
***
Oito horas! Já chego atrasada ao café para vir ter com os meus amigos. Estavam sentados na mesa do canto, como do costume. Dirigi-me para eles e sentei-me numa cadeira vazia.
- Olá malta, tudo bem?
Eles pareciam divertidos comigo e começaram a rir. – Desculpa lá Cristin, não somos amas-secas. E, feliz aniversário. – Disseram eles arrogantemente e levantaram-se para se irem embora.
- O que lhes deu!? – Não estava a perceber nada.
- Cristin vê se cresces, sim? Estás a fazer vinte anos. Está na altura de crescer, ser uma mulher de verdade. – Disse Sara, quem eu julgava ser a minha melhor amiga, saindo atrás dos outros. Ao ela dizer tal coisa vi que tinha sido Roberto a dizer disparates.
E ali estava eu, na noite de meu aniversário, sozinha, encostei a cabeça à mesa. Momentos depois sinto uma mão forte em meu ombro.
- Cristiana, está tudo bem?
Ao ouvir aquela voz masculina e doce, levantei a cabeça e fiquei surpreendida, era David! - Uau quem diria que ele iria aparecer! - Pensei eu ficando mais animada. – Podia estar melhor, mas enfim.
- Importas-te que me sente?
- Não. O que fazes aqui!?
- Julgo ter sido convidado por ti. – Disse ele sorrindo, “nossa mas que sorriso lindo”.
- Julguei que não viesses, depois de me tratares daquela forma.
- Desculpa.
- Porque me tratas arrogantemente? – Quis eu saber, enquanto ele ficava novamente sem jeito.
- Deixa lá isso agora, queres ir discoteca? – Perguntou ele pondo sua mão em cima da minha.
- Pode ser, mas não te escapas sem me dizer o que se passa.
Saímos e fomos para a discoteca que ficava ali perto, rimos e falamos toda a noite, até que, meu Deus, não sei como nos beijamos, mas logo de seguida ele se afastou de mim de rompante e quis logo ir-se embora.
Saiu apressadamente sem me dizer nada, enfiou-se no carro e acelerou que nem um louco, será que fiz alguma coisa de errado? Vai-se lá perceber os homens. Depois duma noite assim, só me resta voltar para casa.
***
Passados alguns dias no elevador cruzei-me como e David. Mas que clima esquisito entre nós dois. Éramos só nós dois e quando dei por mim ele estava-me beijando, e o pior foi quando ele disse “amo-te Joana.”
Depressa o empurrei de mim, as lágrimas corriam-me pela cara e comecei a carregar no botão como se o elevador descesse mais depressa. – O que disseste!?
- Desculpa, não queria… - Começou ele a explicar, mas não deixei pois saí a correr dali para fora.
Cheguei a casa levada de lágrimas, não queria falar com ninguém, por isso demorei a abrir a porta quando a campainha tocou.
Mas que raio! Quando abro a porta deparei-me com David, mas como descobriu onde morava!? Tentei fechar-lhe a porta mas não consegui, ele colocou o pé entre a porta, impedindo assim de a fechar.
- Precisamos falar. – Disse ele abrindo a porta e entrando. Eu ainda estava levada em lágrimas, sou mesmo uma idiota.
- O que fazes aqui? – Perguntei quase a gritar.
- Desculpa, não te queria magoar. – Disse ele secando meu rosto. – Tens todo o direito de saber o porquê de…
- Teres-me chamado de Joana? – Perguntei irritada limpando o rosto com a mão.
- Há uma coisa que não sabes, é que, bem, fizeste-me lembrar a minha mulher…
- Não acredito, tu és casado!? Mas que cretino….
- Já fui, sou viúvo há seis anos. – Disse ele muito triste. – Ela faleceu num acidente de carro, por causa de um alcoólico. – As lágrimas começaram a rebolarem face abaixo, à medida que me contava sobre a tragédia.
- Não sabia lamento. Mas…
- Eu sei, saiu-me sem querer. A última coisa que quero é magoar-te, Cristin, no primeiro momento em que te vi, fizeste o meu coração despertar. Acho que te amo.
- Hum. Achas, não tens a certeza. – Disse eu com um aperto no peito.
- Se me deres uma oportunidade, podemos descobri-lo juntos. – Disse ele acariciando-me o rosto com a costa de sua mão suavemente.
A verdade é que nem eu mesma sabia o que estava sentindo, uma coisa era certa, o que estava a sentir por ele era muito forte, era algo que nunca sentira com Roberto. Acabei por concordar em nos conhecermos melhor e aos nossos sentimentos.
***
Passado alguns meses chegara o Natal, estava com meu irmão, com a esposa e meus pais, prestes a cear, quando a campainha soou. Rosa foi abri-la. Quem poderia ser? Era David que decidira fazer-me uma surpresa, depois de ter-me pedido um tempo umas semanas atrás.
Rosa entrou na sala sorrindo e fazendo-me sinal para a porta. Assim que me deparei com ele fiquei muito contente, mas um pouco ansiosa…
Depois da ceia todos se foram deitar, isto com a desculpa de estarem muito cansados, ficando só eu e David sentados no chão diante da lareira.
- Isto é para ti, espero que gostes. – Dando-me um embrulho cor-de-rosa.
- Obrigado, não era preciso. Não te comprei nada, nem sequer sabia se iria ver-te. - Disse eu abrindo o embrulho, era um livro, o que andava para comprar e não havia meio de o fazer.
- Cristin, amo-te. Quero começar uma nova vida contigo. – Disse ele sorrindo-me.
- Tens a certeza? É que, também te amo.
Ele começou acariciar-me o rosto com a mão direita e passando com a outra pelos meus longos cabelos, olhou-me nos olhos. - Amo-te Cristin.
- Também te amo e muito.
De seguida ele beijou-me tão intensamente como se fossemos um só, ali diante do fogo que nos aquecia naquela noite fria de natal.
Fim Paula Perleques
Para quem não sabe a Paula ficou em , 1º lugar , empatada com a Ninfa!
Sem comentários:
Enviar um comentário